Alertas de seca disparam no Brasil e crescem 409% em treze anos

Por Paraiba.com.br
Hoje, 22 de março, Dia Mundial da Água, não há muito o que se comemorar no Brasil. Ao contrário.
Os casos de seca que levaram a decretos de situação de emergência ou calamidade pública no país dispararam entre 2003 e 2015, segundo dados mais recentes da ANA (Agência Nacional de Águas). Ao longo do período de 13 anos, o número desses episódios cresceu 409%.
Nesse mesmo intervalo, também aumentou a quantidade de municípios no país que decretaram emergência ou calamidade em decorrência das secas. O salto foi de 199%.
Como a Folha revelou no domingo (19), a seca no Nordeste é a pior desde 1961, segundo registros do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
De acordo com a ANA, os reservatórios locais estão com 13,8% da capacidade. E, segundo o Ministério da Integração Nacional, 835 municípios da região estão em estado de emergência.
Para situações como essas, o ministério afirma, por meio da assessoria, oferecer ajuda para a criação de poços artesianos, o transporte de carros-pipa e a realização de obras de adutoras. Depois, mantém o monitoramento dos locais afetados.
Mas, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, a política de recursos hídricos no Brasil só funciona no curto prazo, na maioria das vezes. Ainda segundo eles, os investimentos nessa área têm sido insuficientes.
Falta de chuva se alastra
Episódios de seca causam mais decretos de emergência e calamidade e atingem mais cidades

Para estudiosos do tema, como a meteorologista da USP Maria Elisa Siqueira, a sucessão dos eventos de seca na história do país e a previsibilidade do clima, por meio de monitoramento, evidenciam um razoável atraso na adoção de práticas mais sustentáveis de administração da água.
Em nota, a ANA admite que tem percebido "a necessidade de atualizar as práticas regulatórias e de gestão".
De acordo com a meteorologista, o país passou por um evento climático que impulsionou o aumento do número de secas nos anos 2000. O aquecimento das águas do Oceano Pacífico levou uma massa de ar quente ao Nordeste, afastando as chuvas da região.
Contudo, diz ela, "existem áreas do globo que são muito áridas e sobrevivem com menos chuvas e melhor gerenciamento das águas".
O Plano de Segurança Hídrica, a cargo da ANA e do Ministério da Integração, está previsto para 2018.
Ele irá indicar as principais intervenções necessárias para o aperfeiçoamento da gestão dos recursos hídricos, como a construção de barragens e sistemas adutores.
Segundo Josiclêda Galvíncio, pesquisadora de recursos hídricos na Universidade Federal de Pernambuco, é fundamental também suprir a carência no tratamento de água e esgoto.
Para a pesquisadora, o país precisa de dados mais consistentes sobre uso e ocupação do solo, que permitiriam, por exemplo, tratar mananciais.
Folha de São Paulo